Às vezes tudo que as pessoas querem são coisas descartáveis.
Single version of everything, disposable people, short term moments.
Às vezes, as pessoas só querem estar longe delas mesmas e de quem as fazem lembrar quem são. Não querem enfrentar as coisas difíceis, preferem abrir mão do que amam e viver da forma mais fácil possível, distanciando-se de qualquer provável embate.
Às vezes, elas só querem respirar. Sair da pressão que é levar essa existência a sério, não se preocupar com próprias atitudes, nem ter de aceitar sentimentos, passado, presente.
Todo mundo, em algum momento, quer viver num mundo de plástico. De sorrisos amarelos. De palavras inventadas. De superficialidade momentânea. De paixões de uma noite. De abraços carentes. De alguém que concorde, aceite e até fale mal de quem quer mais que um dia de mentira seu.
Precisamos disso às vezes.
Preciso disso agora.
Mas às vezes isso não é um instante. É para sempre. Uma eterna luta pelo distanciamento de si, uma eterna auto negação.
Não dá pra se esquivar das leis do universo. Até não plantar implica em uma não colheita. Ficar parado significa ser atropelado por tudo mais que passar. Abster de decidir é deixar que decidam por você.
Quando paramos, andamos para trás.
Não há momento em que nada aconteça. Tudo acontece o tempo todo. O tempo não para, você envelhece, o cabelo cai ou fica branco, o corpo enfraquece, o ânimo diminui, a morte te pega.
Decidimos a todo momento, mesmo quando não decidimos. Estamos decidindo não decidir. E isso também trás consequências.
Se distanciarmos demais da nossa essência, chegará um momento em que não mais saberemos quem somos, estaremos completamente perdidos, vazios, inseguros, enganados e não seremos capazes de sair do mundo de plástico que criamos.
Hoje eu quero agradecer por ser real, por sangrar, por chorar, por ser capaz de amar, de brigar, de lutar.
Agradecer pelos defeitos que tenho, por não ser descartável, por não ser algo fácil demais, por ser complexa, profunda, infinita como o universo.
Agradecer pelas coisas que busco para mim, minha luta interna pelo auto conhecer.
Agradecer pelo passado em outras vidas, pelas vivências que já tive, por enxergar a vida tão amplamente e por um ângulo tão singular.
Agradecer por ser diferente, por me sentir fora da caixa às vezes e até mesmo por não ter com quem conversar e falar das coisas que acredito sobre o ser humano, outras espécies, outros universos.
Agradecer por ser colorida, por desejar amor, por querer ser alguém melhor.
Agradecer por saber me entregar quando gosto, por saber ser sincera comigo mesma e com os outros, por ignorar traumas passados e desejar o presente com tanta garra.
Agradecer pelo sorriso que consigo botar no rosto mesmo depois de um dia pesado, triste, mesmo quando ainda estou cambaleando dos baques que levo, oscilando entre ser uma pessoa elevada e ser apenas um ser humano enfraquecido pelas dificuldades, agradecer por acreditar em mim mesmo assim.
Agradecer pela bondade que tenho, a preocupação pelo próximo, a cautela que tenho em não machucar as pessoas.
Agradecer pelas cobranças internas e as advertências internas quando algo sai do controle, uma palavra amarga sai da minha boca e meu corpo todo responde, pedindo para que eu volte atrás, peça perdão, volte para o amor.
Agradecer pela minha coragem de sempre dizer o que sinto. Toda a transparência que não sei esconder.
Agradecer por mais um dia em que eu levanto, me olho no espelho e digo que me amo e vou cuidar de mim repetidamente, até que o sentimento de tristeza saia do meu olhar.
Agradecer ao universo, por mais uma chance de mudar.
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