segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Acabou o Toddy.
Eu tinha falado que não gostava de ficar sem. A gente vai dando sinais mesmo quando não se abre para dizer o que sente, entende?
E foi assim, cheio de mensagens não faladas. Um filme mudo. Tenho certeza que consegue imaginar como.

Ele deixou o Toddy acabar.



Era um dia frio e nós vestíamos casacos quentinhos. Eu achava que usar rabo de cavalo não me deixava bonita, mas você disse que eu estava linda e apertou a minha bochecha fazendo voz de criancinha. Gosto tanto disso!
Fomos até o elevador com a cachorrinha. A sua mãe disse que ela, a cachorra, precisa sair para passear todos os dias e eu via um dia lindo da janela do seu quarto, necessitava ir para fora um pouco com você e a pretinha, a cachorra.
O elevador chegou e você voltou para dentro correndo porque tinha esquecido de desligar o computador. Foi nessa hora, bem nessa hora que comecei a pensar nos dias seguintes, estes que passo sem você.
Sabe, a culpa é toda sua. Sempre sua. Se não fosse a sua volta repentina para dentro da casa e aqueles dois minutos em que tive de segurar a porta do elevador, nada disso teria acontecido.
Descemos do décimo primeiro. Demora tempo suficiente para nos abraçarmos e dizermos coisas idiotas um para o outro. Porque você está me olhando com essa cara de idiotinha, hein? Menti dizendo que não era nada.
Demos uma volta no quarteirão, elogiamos o dia, o céu, as casas antiguinhas e cheias de plantinhas, florzinhas e pintura descascando. Paramos perto da árvore de amoras, você que é alto pegou as mais roxas e comemos algumas. Agora vamos voltar, né? Quer voltar? Voltamos.
Domingo, quase cinco horas da tarde, meudeusdocéu, esse tempo não pára!
Colocou aquele filme engraçadinho para a gente ver, depois jogamos uns joguinhos de tiro, - não, não, não. Já é domingo! Que saco, viu? Não vou embora porque você me deixou dois minutos esperando, segurando a porta do elevador e eu já vi tudo! Eu já sei como vai ser! Não adianta falar que não, porque já estou convencida - depois um lanchinho e mais um filme e é hora de dormir.
E n'outro dia pela manhã, tem de acordar cedo porque é segunda-feira. Você tem aquele curso lá longe e eu vou para faculdade. A gente se despede, mais ou menos. Se cuida. Você também.
Apresento um seminário super interessante e penso em você. Saio da sala, pego o metrô, chego em casa e penso em você. Faço o almoço, tomo banho e penso em você. O telefone toca e eu penso em, não, espera, é você.
Passa o dia, trabalho, você também. E aquilo que começou no elevador vai ficando real. Ah, antes era só presságio, agora é realidade. Abro o armário. - Cadê o Toddy? - Acabou!
Você sabia! Sabia que não posso ficar sem. Agora estou me sentindo carente, com esse aperto no coração, essa vontade mal resolvida. Dá vontade de fazer biquinho, ligar com voz dramática, dizer exageros e que enquanto eu estiver sem a vida não terá sentido.
E agora? Você me compra outro e traz até aqui? É que, sabe... Eu até vivo sem Toddy, mas é que eu não quero.

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