sexta-feira, 1 de abril de 2016

A dor da vida.

Vivi vários relacionamentos abusivos, cheios de traições na minha vida.
Fui espancada algumas vezes por um ex namorado, estuprada por outro, sofria ameaças psicológicas, era constantemente silenciada com um discurso de que sou fraca, insuportável e louca.
Eu realmente acreditava que estava enlouquecendo, mesmo quando via as traições escancaradas, mesmo quando descobria mentiras, eu ficava revirando tudo isso com uma vontade indescritível de comprovar que era mentira, que era mesmo coisa da minha cabeça, que eu estava com problemas em enxergar o homem maravilhoso que estava alí, dando "tudo" para mim. Abrindo mão de estar com outras muitas meninas, sacrificando TODA a sua vida por segurar a minha mão numa noite de sexta-feira em que o mundo só tinha a oferecer maravilhas para eles.

Estavam se privando de tantas coisas incríveis para se enfiarem "na merda de um relacionamento, uma merda, está entendendo? É tudo por você e você é ingrata, você quer demais, você é muito exigente, você mata a minha masculinidade, você tira minha liberdade".

Nunca estive num namoro em que a pessoa não demonstrasse que eu a estava fazendo perder o melhor da vida dela.
Nunca estive num relacionamento em que eu não me sentisse culpada o tempo todo, preocupada com as minhas emoções, com medo de demonstrar quando algo me chateia.
Nunca estive em um relacionamento que eu não sentia medo de perder o outro para todas essas coisas maravilhosas e melhores que eu que o mundo tem a oferecer.
Nunca me senti o bastante.
Nunca me senti totalmente confiante.

E ainda assim, eu acredito que se eu mudar, as coisas irão mudar.
Ainda assim continuo achando que o erro está em mim.
E isso me machuca muito, me humilha, me despedaça.

É duro saber que mesmo com tanto ácido no mundo ainda é responsabilidade minha e só minha mudar, me encher de amor, ter esperanças, compreender o outro, melhorar a minha frequência, evoluir como pessoa...
Me sinto muito sozinha,







O texto a seguir eu retirei deste link: https://negrasolidao.wordpress.com/2015/07/02/os-homens-que-nao-amavam-as-mulheres/

[ Não, os homens não nos amam, não são capazes de algo tão grande por nós. Não são capazes de se deixar por nós, de se abandonar, de abandonar seu lugar de privilégios por nós.

A assimetria que eu enxergo nos relacionamentos heterossexuais é perversa: os homens são socializados pra independência, pra manipulação e pro abuso; e as mulheres, pra dependência, pra carência e pro perdão, assim os dois lados se completam em prol da manutenção do domínio masculino.
Essa assimetria é cruel porque faz com que as mulheres se deem muito fácil, faz com que perdoem sempre tudo e que sempre carreguem sozinhas o fardo da manutenção do relacionamento. Ao mesmo tempo faz com que os homens ocupem a posição de conformidade, de “errei de novo, mas me desculpa, sou homem, estou tentando”, o homem se sentirá suficiente, sentirá que já está fazendo muito por apenas tentar e nos manipulará todo o tempo para acreditar que nós é que somos muito difíceis e exigentes.
Aqui é importante destacar que ele não trabalhará sozinho nessa manipulação, contará com forte e indispensável ajuda da sociedade patriarcal que, à todo tempo naturaliza abusos em nossa cabeça e faz com que sintamos culpa por não aceitá-los.
Aprendemos desde cedo que a mulher é quem deve prezar pela manutenção do lar, a qualquer custo, a custo da própria liberdade, dos próprios sentimentos e saúde emocional. Crescemos aprendendo que a mulher deve ser tolerante, que devemos “segurar o homem”, que devemos ser flexíveis e aceitá-lo como ele é porque “homem é assim mesmo”, que devemos ter saúde emocional e paciência além da conta pra aguentar “a natureza selvagem e viril do macho”.

Eis aí parte da desgraça da feminilidade. A nossa desgraça é bonita, a gente aprende a confiar e a perdoar muito facilmente e isso é bonito, tudo isso é, na verdade, super bonito. Tudo isso que a gente sente, toda essa nossa capacidade de amar, de se dar é de uma confiança absurda. Nós compartilhamos com os homens a beleza da nossa desgraça e acreditamos que eles podem entendê-la, acolhê-la, que podem nos amar.
Nós damos aos homens uma confiança que eles não merecem, e lhes dedicamos um amor de uma grandeza que eles não tem a capacidade de valorizar. Acreditamos, sempre, e de novo, e outra vez, que tudo pode ser diferente, há uma beleza nessa inocência, uma beleza cruel, uma beleza perversa, uma beleza que sangra e que nunca cicatriza.

Uma coisa que eu aprendi é que os meus sentimentos e minha desgraça, nada disso nunca vai estar acima do privilégio masculino.
No fim os homens sempre vão agir se priorizando, foi o que eles aprenderam a fazer, e a gente sempre vai agir se secundarizando, é o que a gente aprendeu a fazer.

A manipulação masculina se apresentará de formas sutis: frieza, chantagem emocional, silêncio. E, se não estivermos atentas, nosso amor servirá à manutenção do patriarcado, e a manipulação masculina será capaz de inverter o sentimento de culpa sempre pro nosso lado.

O “amor” masculino precisa da nossa obediência, subserviência, da nossa submissão e servidão sexual pra se manter.
O “amor” masculino é muito necessitado da nossa objetificação, consequentemente, da nossa desumanização.
O “amor” masculino é algo muito despreocupado com o nosso cuidado, com os nossos sentimentos.
O “amor” masculino é extremamente volátil e egoísta, é algo capaz de sumir num passe de mágica em nome da manutenção dos próprios privilégios.

(...)
Devo me priorizar, me ouvir, estar atenta aos meus sinais.
Devo parar de me preocupar com os homens de uma forma que eles jamais serão capazes de se preocupar comigo.
Dentro de um relacionamento heterossexual, devo ser mais egoísta, devo reverter grande parte do meu cuidado com o outro em auto cuidado.
Devo ser “complicada” “difícil” e “exigente”, porque tudo isso é por mim.

Um homem que quisesse nos amar deveria entender tudo isso, deverá entender que a assimetria socialmente imposta pede como resposta que tentemos construir, em esfera micropolítica, um relacionamento contrariamente assimétrico.
Devemos resistir aos comportamentos padrão de feminilidade e masculinidade para tentar tornar a relação homem-mulher não-sistematicamente abusiva.

Os homens deverão sim priorizar sempre o que a gente sente com relação ao que eles fazem, e não sempre jogar de novo nas nossas costas o peso e a responsabilidade de lidarmos sozinhas com as nossas inseguranças. Isso não é amor, isso é egoísmo , isso é controle e isso é domínio masculino. ]

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