sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O carrinho descarrilhou, tanto sobe e desce, curvas, não aguentou.
Cada subida era um frio na barriga, a gente sente medo, se arrepende de ter entrado no carro, quer voltar atrás, é difícil, é assustador e, de repente, aquela descida brusca, a adrenalina a mil, a gente ri e chora de felicidade, nem lembra do quão difícil foi subir. Aí é só felicidade, até que para, estaciona e a gente não sente nada muito forte, nem para bom nem para ruim. É neutro, é seguro. Até que começa tudo outra vez.
Dessa vez subiu bem alto, bem alto, foi horrível, foi tortuoso e na descida, que estava acostumada a dar gritos de felicidade, já esperava que ficaria tudo bem, não, não mais os trilhos, a velocidade só aumentava, desgovernado, voando pelo ar e se arrebentou no chão. Foi parar tão longe que eu nem posso reconhecer o lugar. Tem sangue pelo chão todo, uns ossos quebrados, uns dentes a menos, areia por todo o corpo, uma dor insuportável. Parece que aterrizei, só que tudo contra minha vontade. Estou só os pedaços.
É um deserto, o sol rachando, uma sede que não vai ser saciada e único barulho é do vento agressivo. Destroços do carrinho junto com os pedaços de mim. Não sei se dá para levantar ou remendar esse corpo dilacerado. Você quer desistir de fazer qualquer coisa, mas ficar parado esperando o fim é ainda mais agonizante. Sabe que a noite é ainda pior. O sol vai embora e o frio vai ser ainda mais cruel.
Não é permitido nem sofrer e nem chorar. Você precisa ser meio rápido. Chora um pouco, dói um pouco, mas vai ter que se levantar. Não tem botão de pause ou de rewind. É uma fodeção atrás de outra. O máximo que dá para fazer é chorar se levantando. Chorar esperando a morte não é opção, a menos que você realmente ache bom morrer aos pouquinhos de forma imensamente dolorosa... Na primeira sessão de auto tortura você já se põe de pé e diz “melhor morrer andando que morrer caído”.
Se não dá para levantar, vai arrastando mesmo. Com tanta parte de corpo fodida, vai ter que ser arrastando mesmo.
Está tão embaçado, tão longe, que eu não consigo nem ver a minha roda gigante. Esta vida já foi menos cruel. Assim jogada para bem longe, ao relento, sem nada, ainda não tinha visto. Às vezes o brinquedo quebra para valer, né? Bizarro. A gente não sabe se bota uma meta de construir um novo um dia, ou se nunca mais monta em um se arriscando a ser feliz de novo. Vai que morre de vez!
Olha pra um lado, areia, olha pro outro areia. Dá mais um passo, cospe sangue, dói a porra toda do corpo. Você esta destruída e não sabe nem para onde ir... grande fracasso.
Segue o sol. Um dia de cada vez. Uns pedaços da gente vai ter que ficar para trás mesmo, não dá para costurar tudo de volta. A gente sai diferente, meio acabada, mais amargada, mas pelo menos segue em frente.

Tem que morrer dando joinha, que nem o Exterminador do Futuro.
Só que “we won’t be back”...

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